terça-feira, 29 de maio de 2007

Talvez no tempo da delicadeza...


Lembrei-me do Tom, o Jobim. O maestro soberano costumava ser compreensível com seus parceirinhos. No estúdio ou fora dele, entre notas e muito suor, entre Chico Buarque, Vinícius de Moraes ou seja lá quem for, quando achava algo errado nos acordes de seus parceiros, era muito sutil e delicado para mostrar o erro. "Você não acha que fica melhor assim?", perguntava Antônio Carlos Brasileiro Jobim, com a leveza dos pássaros que tanto amava.
É preciso muito cuidado, não só com as palavras, mas também com o tom, não o Jobim, mas o tom da voz. Além do mais, estamos aqui para aprender, ou alguém aí já nasceu sabendo? Como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade: "Vida, aprendizado sem conclusão de curso". Eu, na minha jovem ignorância, assino embaixo!
E por onde anda a delicadeza? Pergunto aos leitores dessa página, sem a pretensão de conseguir resposta alguma de seu paradeiro. Pelo jeito que as coisas andam por essas paragens, a delicadeza resolveu partir, sem previsão de volta. Se eu fosse ela, também partiria para terras mais acolhedoras. Com o individualismo exacerbado e as intensas crises de solidariedade, as pessoas andam pensando muito pouco nas outras e vivem olhando para o próprio umbigo, como se esse vasto mundo girasse em torno delas. Palavras como humanismo, amizade, tolerância, humildade e compreensão fogem dos nossos dicionários como o diabo foge da cruz. Aliás, acho que até o diabo é muito mais jeitoso que muitas pessoas que andam por aí. Uma boa dose de tolerância e humildade para todos.

Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"Onde é que nós estamos que já não reconhecemos os desconhecidos" (leminski)


Linda fotografia: Ana Lontra.



sexta-feira, 25 de maio de 2007

"O meu amor faísca na medula" (C.D.A.)




Essa fotografia de Drummond inspirou a estátua em sua homenagem, em Copacabana. A foto da estátua, tirada por nossa correspondente no Rio de Janeiro, Marcella Pennylane Jacques, está no Eutanásia, com o título "Papo de Anjo".
Aproveito para deixar um poeminha de Carlos, para o possível deleite de vocês, leitores eutanásticos.


O seu santo nome


Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem
remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Pelo aniversário de 40 anos da morte do Che, publico novamente suas palavras...

"Devo dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é movido por sentimentos de amor. É impossível num autêntico revolucionário sem esta qualidade. Talvez seja um dos grandes dramas do dirigente; este deve unir a um espírito apaixonado uma mente fria, e tomar decisões dolorosas sem que nenhum músculo se contraia. Os nossos revolucionários de vanguarda têm de idealizar esse amor aos povos, às causas mais sagradas, e torná-lo único, indivisível. Não podem mostrar a sua pequena dose de carinho cotidiano tal como faz o homem comum."

É, o mundo está precisando de uma meia dúzia de Guevaras...

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Picasso desenha Rimbaud e Smita Maitra desenha Jim Morrison













"Une saison en enfer"

Pois, de repente, dei de cara com um livro de um escritor, até ontem, desconhecido por mim. "Rimbaud e Jim Morrison – Os Poetas Rebeldes", do norte-americano Wallace Fowlie, professor emérito de literatura francesa da Universidade de Duke, na Carolina do Norte é uma porta aberta para duas temporadas no inferno. Em 1968, o poeta do rock Jim Morrison escreveu para Wallace agradecendo pelas traduções da "Obra Completa de Rimbaud" para o inglês. Fã confesso da poesia do rebelde francês, Jim disse que levava a edição do livro para onde fosse com sua banda. No livro, Fowlie fala dos dois poetas dionisíacos, partindo de uma breve história de como ele foi de Rimbaud a Morrison até a influência do poeta francês nas letras e na vida do legendário roqueiro.
Fã de The Doors e do poeta Jim desde garoto, comecei a me interessar por poesia escrita aos 17 anos, quando me apaixonei por uma menina no colégio. Na época, ela era muito mais que uma Pamela Courson (Mulher de Jim). Então, precisava chamar a atenção dela de algum modo. Arrisquei alguns versos e, quando menos esperava, após declamá-los olhando para seus olhos, estava vivendo um romance. Acabou sendo um romance bem rock’n’roll, com direito até ao ódio ferrenho de seus pais.
Desde então, a poesia tomou proporções inimagináveis na minha vida, que passa longe de ser apenas uma "arma" para a conquista. Passei a me interessar cada vez mais por poetas e seus mundos ímpares. Pelo gosto pela poesia, sempre fui surpreendido por dicas de amigos, como a do Seu Tarcísio, pai do Fred, que me indicou a leitura de "Uma Temporada no Inferno", de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud. Ele disse que eu iria gostar. Palpite feliz! Tiro certo! Adorei "Uma Temporada no Inferno" e outras coisinhas de Rimbaud que acabei achando pela Internet.
Por isso e por outras, fiquei surpreso ao me deparar com "Os Poetas Rebeldes", de Fowlie. Fiquei tão empolgado que acabei comprando mais dois livros para presentear dois compadres meus. Com as devidas dedicatórias, os entreguei já à espera do certeiro sorriso. Ao ler o livro, ainda resgatei uma rebeldia incontida que não experimentava desde os meus bons anos 90 onde, entre um trago e uma dose, cantava baladas como "Break on Through", aos berros, junto a Jim e meus comparsas.


Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento de todos os sentidos" Rimbaud

terça-feira, 22 de maio de 2007


Papo de Anjo


A Carlos Drummond de Andrade.

Quando nasci, um anjo gauche
Desses que vivem à sombra
Dos acontecimentos
Disse: "Vai, Daniel! Ser torto na vida".

Nunca mais me esqueci desse solfejo,
Que volta sempre a me embriagar.
Levo a noite no dia,
E, aos poucos, ao anjo obedeço.

A madrugada vira meu norte.
Quando o escuto, sou forte.
Menino, crente, devoto,
Vôo em frente, sem corte.


Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.

Imagem: Marcelinha Pennylane,
Correspondente Rio de Janeiro.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

"Vai, Toco..."



A dica deste final de semana não poderia ser outra. Toquinho se apresenta hoje, às 22 horas, no Chevrolet Hall. Os ingressos custam 50, 60 e 70 reais, com meia entrada válida para todos os setores. Toquinho se apresenta ao lado de Silvia Goes (teclado), Ivâni Sabino (baixo), Mutinho (bateria) e Vanda Breder (vocal). A grande parte do repertório é de músicas com seus parceiros ilustres, como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Baden Powell, entre outros. Vale a pena conferir. Sabe-se lá quando ele voltará às Gerais.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Nocaute


Desde os primórdios da humanidade que os homens costumam se atracar. Seja por território, seja pelo motivo mais nobre do mundo – a mulher.

A palavra boxe deriva do inglês to box, que significa bater ou bater com os punhos. Essa expressão foi usada na Inglaterra até o século 19.

O boxe é também chamado de pugilismo. Derivado do latim, pugil significa “lutador com cestus”. Cestus era um conjunto de correias de couro, placas de ferro e chumbo usados pelos lutadores romanos. Pugillus significa punho fechado.
Nos séculos XVIII e XIX, na Inglaterra, os homens costumavam lutar sem luvas ou proteção qualquer. Mesmo sendo brutais, as lutas eram muito populares entre os ingleses. O boxe foi se espalhando pelo mundo a partir de 1920. Mas há indícios de sua existência entre os humanos desde 1500 a.C.

Dos pugilistas mais famosos, lembro-me agora de Joe Louis, Rock Marciano, Muhammad Ali, Mike Tyson, Evander Holyfield e claro, os heróis brasileiros Éder Jofre, Maguila e Popó. Éder Jofre foi campeão mundial dos pesos-galos quando nocauteou o mexicano Eloy Sanches, em novembro de 1960. Em 69, já na categoria dos penas, derrotou por pontos o cubano naturalizado espanhol José Legra, conquistando o título mundial da categoria. Éder, em toda sua carreira, conseguiu a marca de cinqüenta nocautes.
Adilson José Rodrigues, mais conhecido como Maguila, por causa de sua semelhança com o gorila personagem de um desenho de Hanna & Barbera, foi campeão mundial da categoria peso-pesado. Quem não se lembra dele? Figura caricata, Maguila já enfrentou vários bambambãs do boxe, muitas vezes caindo de cara na lona. Mas vá lá, ele tem seu mérito. Hay que ser mucho macho para enfrentar brutamontes como Tyson e Holyfield.
Medindo apenas 1,68 metro, Acelino Freitas, o Popó, é o nosso último herói dos ringues. Conhecido como Mão-de-Pedra, nasceu em Salvador e começou a lutar aos 14 anos. Consagrou-se vice-campeão pan-americano aos 19; em 2002, unificou os títulos da Organização Mundial e da respeitada Associação Mundial de Boxe. Hoje, anda mal das pernas, digo, dos punhos. Depois de reconsiderar sua aposentadoria, perdeu o cinturão para o norte-americano Juan Diaz, em abril deste ano.

Saindo do ringue tupiniquim e indo como um direto de direita para os grandes pugilistas internacionais, Mike Tyson é o mais conhecido, por sua selvageria dentro e fora dos ringues. Aos vinte anos de idade era o mais jovem campeão da categoria dos pesos-pesados. Mas em 1990, Tyson foi derrotado por James Buster Douglas, no 11º assalto, em uma luta histórica, na cidade de Tóquio. Depois disso, entre escândalos e prisões, entrou nos ringues para a decadência. Quem não se lembra da madrugada em que a fera arrancou com uma mordida, um pedaço da orelha do lutador Evander Holyfield? Teve que desembolsar três milhões de dólares e ainda perdeu a licença de lutar boxe em Nevada, EUA. Sem contar os processos por assédio sexual.
Agora, se for para falar de grandes lutadores mesmo, sou obrigado a recordar dois, mesmo que eu não os tenha visto lutar. Em 1952, Rocky Marciano protagonizou uma das maiores lutas da história do boxe, derrotando Jersey Joe Walcott e conquistando o título mundial. Mesmo quase cego, por causa de um coágulo cáustico que havia escorrido para os olhos, devido, é claro, a uma luta anterior, Marciano finalizou seu oponente com um direto de direita; o mais famoso da história do esporte. Rocky nunca foi derrotado nas suas 49 lutas como profissional; porém, como amador, beijou a lona diversas vezes.

Para finalizar minha primeira crônica esportiva, antes que eu seja nocauteado pelos leitores, chamo a atenção de todos para lembrar Cassius Marcellus Clay Jr., mais conhecido como Muhammad Ali. É considerado, por muitos, o maior pugilista de todos os tempos. Ficou conhecido não só pela maneira ímpar de lutar, mas pelas suas posições políticas. Quando mudou seu nome, ao se converter ao islamismo, lutou bravamente contra o racismo. Hoje, Muhammad sofre de uma doença similar ao Mal de Parkinson, denominada "parkinsonismo do pugilista". É válido lembrar que ele, em uma luta contra Ken Norton, em 1973, suportou 12 assaltos com o maxilar quebrado.
Peço perdão a todos aqueles que deixei de mencionar, inclusive um número grande de mulheres da pesada que, recentemente, aderiram ao esporte. Mas soou o gongo e eu preciso pular fora desse ringue, antes que eu saia daqui de maca. Um jab carinhoso para todos e até a próxima luta.

Daniel Rubens Prado.
Outono de 2007.


Foto: Stewart`s Booth, 1950.

Joe Louis durente uma luta de boxe contra Max Schmeling, em junho de 1936.
Havia poesia no pugilismo.
Foto: World Telegram staff photographer

sexta-feira, 11 de maio de 2007


Bate outra vez...

Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu e morreu em um domingo de primavera. O poeta do morro foi o fundador da escola de samba Estação Primeira de Mangueira e compôs mais de quinhentas canções, entre elas As Rosas não Falam e O Sol Nascerá. A última em parceria com Elton Medeiros.

Passou a vida trabalhando como servente de pedreiro, lavador de carros, pintor de paredes, entre outras profissões que passam longe do seu dom, o de compor músicas belíssimas.

Essa semana é a última chance para assistir, no cinema, o documentário Cartola – Música para os Olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. De encher os olhos d’água e poesia. Em cartaz no Belas Artes 1, às 16 horas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007


"nisso eu sou primário

amor pra mim

vem do caralho",
disse leminski.


E Alice, sua esposa, respondeu:

"nisso eu sou careta


amor pra mim


vem da buceta"
Imagem: The lovers II,
by Magritte, René
1898 - 1967