terça-feira, 13 de outubro de 2009

CONVITE DE PRIMAVERA


Dia desses ou daqueles,
Depois que o sol se cansar,
Depois de secar o suor da labuta,
Após a sonâmbula jornada cumprida,
Acho que podemos, quiçá devemos.

Rendemo-nos a longos e sonoros suspiros,
Que sem aviso, cúmplices, se transformam
Em sorrisos de alívio.

Deixemos de lado o horário útil
Deste dia inútil e suas fadigas,
Para semearmos na noite
Gozo e emoção.

Sem pressa...

Despojados acrobatas
Num embalo amoroso e rítmico,
Cheio de piruetas e saltos e...
Mãos dadas.

Num só tempo,
Sob os poderes primaveris,
Esquecemos o passado carregado
E o futuro incerto,
Entreguemo-nos presentes ao encanto imponderável
De um mundo possível de todas as flores.
E frutos.

De um mundo inocentemente erótico,
Vagarosamente trágico,
Além de mim, de nós,
De toda poesia criada,
Além dos ventos que trazem o diz-que-diz-que,
E promovem tantas incertezas, tantos desencontros.

Seremos, enfim, neste momento,
Apenas dois seres impermeáveis,
Permanentes na mais honesta estação:
A do desejo de amar sem culpa.
Daniel Rubens Prado,
Primavera de 2009.