quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O CIÚME

O ciúme é a parte externa
De uma doença interna
Que nos faz refém
Uma visão doente
Da posse aparente
De quem se quer bem
Ciúme, teimosia da mente,
É a memória insistente
Do que já não se tem
Insegurança latente,
E confiança ausente
Que nada mantém
É normalmente um medo
De ser um brinquedo
Nas mãos de alguém
Talvez porque a fidelidade
É uma fragilidade
Aos olhos que a vêem
Ciúmes de outras pessoas,
Mesmo em épocas boas
Vão e vem...
O ciúme machuca e magoa,
E às vezes à toa,
Ocorre também
Então por que ter ciúme
Se o mero costume
É de onde ele vem?
Pois ciúmes reduzem abraços,
Tornam beijos escassos,
E não fazem bem
Enfim, vá se embora ciúme!
Que o amor assume
Os riscos que tem.
Texto: Renata Vilas Boas.
Imagem: Mirabilia.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Transformação


Você me salvou.

Balançou a cabeça num sim de delicadeza e ternura. Ainda lúcida, de olhos abertos e molhados, no leito de sua morte, disse àquela enfermeira de roupa pálida que eu era sim, um bom filho. De fato, o melhor que você já teve. E também o pior - filho único que sou.

Logo depois, só nós dois, chorei quando você me pediu guaraná e eu não pude dar. Naquela tarde não dei conta. Nem podia.

Mais tarde, quando você já ia, molhei seus lábios com o refrigerante. Deixei-a partir. Mas não antes de dar a você todo o meu adeus. De dizer, sem saber se você me ouvia, da precoce saudade que já me invadia.

Nessa hora grave, com a vista embaçada num pranto sem consolo, notei que você também chorava, mesmo no mais profundo sono.

Sequei suas lágrimas pela última vez e fui-me embora, ainda sem saber que só o amor torna as pessoas eternas.

Texto: Daniel Rubens Prado.
Imagem: Glass Tears, por Marlene Dumas.